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quinta-feira, 18 de setembro de 2008

"Ao Luar"


Ao luar

A Lua surge nos espaços bela,
Banhando tudo de harmonia e luz;
No céu fulgura tremulando a estrela,
Ergue-se ao longe mutilada cruz!

Arpejo, anseio sussurrante, vago,
Murmúrio incerto pelo ar desliza...
As puras águas do sereno lago
De leva encrespa, perpassando a brisa!

Silêncio augusto no feudal castelo,
E na floresta só subtil rumor!...
Eis dentre o bosque sai um vulto belo,
Cingido em veste de virgíneo alvor!...

Mulher ou anjo, lhe pulsava o seio,
Qual treme a Lua na amplidão do espaço;
Gentil mancebo de repente veio,
E ambos se uniram em saudoso abraço;

E ouviu-se um beijo, como nota incerta
De eólia harpa, qual subtil segredo!
E o moço disse murmurando "Berta"!
E ela "Guilherme!" suspirou a medo!...

E depois, desprendendo-se do abraço,
Comtemplavam-se tristes, silenciosos;
Com voz magoada o moço enfim lhe disse:

"Berta, já sabes, vou deixar-te em breve!
O pranto corre pelos olhos meus;
Oh! sinto a angústia que se não descreve
Ao vir dizer-te o derradeiro adeus!

Mas é forçoso que te deixe agora,
Porque me obriga do dever a lei;
Eu vou partir ao despontar da aurora,
Assim me ordena a minha honra, irei!..

Guerra Junqueiro

(respeitem os direitos do autor)

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