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domingo, 5 de junho de 2016

Daufen Bach

im e outras 49 p“    este pertencimento as coisas que não são entendidas”
hoje, o meu paladar pelas coisas simples e de fácil
_____________________entendimento se perdeu.
estou a adormecer e a acordar para os meus arroubos.
as razões de nada me servem!
fiz barulho de cristal quebrado e me recompus igual a
_________________________ um cristal quebrado...
(apenas estilhaços).
o correr das horas é lento!
procuro o sentido oculto das coisas, mas a minha angústia,
servil e desvairada,
é timoneira e me leva para os olhos de neblina
que se escondem atrás de cortinas imaginárias.
tardio...
sempre tardio o arrependimento!
a fúria veloz com que me bate os pensamentos
_____________ exige que eu fique em solidão.
que seria do silêncio sem a voz - eu me pergunto.
por que a razão de minha voz, se é tão mais prático
e convincente, tão mais sábio,
se esconder e ficar apenas a olhar com olhos de
____________________________observação?
assim como ter audácia para ventos fortes e paixões
_________________________________fervorosas,
queria ter audácia para fugas contínuas deste desespero.
ser como um navio a singrar de um porto em busca de
__________________________águas desconhecidas
e, a mirar sempre o horizonte,
ver em gaivotas e ondas baixas, a mansidão...
mas, em mim, tudo é revolto, consome e arde!
tudo sempre está de malas quase prontas para o partir.
sempre a cultivar este eterno desassossego da calma e
_____________________________________ da alma.
que mistério há nas coisas?
que ardor e frenesi, diferentes, andam junto aos passos
___________________________________da amada?
seriam os meus olhos a ver coisas que não existem?
seria esta disritmia, este solavanco do espírito
a perceber coisas que não existem?
seria a coisa amada desatenta?
que fidelidade há no meu sentir?
que tipo de confiança carrego?
esta confiança que me dá conforto de sabedor do querer
__________________ e desconfiança do querer sabido?
esta consciência absurda deste caos interior,
não mede o ruído cruel de uma voz dita em brados íntimos.
não percebe o teor da palavra solta quando em confusão,
_____________________________________disparates
e estas inconveniências todas do sentir.
espero que uma porta se abra,
mas não me concebo o direito de abri-la.
serias tu, amor imaginado, a chave, a aldrava?
serias tu o ferrolho fácil de burlar?
fico com a imensidão solitária deste contínuo esperar...
a imensidão deste desespero branco
e desta monotonia reservada
para as horas do “não sei o que fazer”...
adiamentos,
repetições,
divórcios de horas amarradas ao tempo.
o tic-tac cadenciado do relógio
não apresenta respostas
e me imerge no abismo de grandes interpretações.
descem as águas do rio...
(elas forram a minha imaginação)
a se debaterem com as pedras me mostram o caminho,
____________________________________ o curso...
(luta debalde esta minha de compreensão!)
estou a imaginar que não existe libertação
_________________para os pensamentos,
que não existe cura para estas coisas não metafísicas
e que não existem metafisismos
para àquilo que irrompe a lógica dos sentidos
ou que busca nos sentidos, a lógica.
para que embriagar-se com fumaça de cigarro
e ficar a sorver co(r)pos não servidos?
há um verso perdido na escrivaninha,
uma pena, um tinteiro e algo mais...
mas, não uso pena, nem tinteiro e para quê, então,
___________________este verso a me maltratar?
a relembrar a confusão, quase épica dos perceberes,
a não me dar respostas e representar em tabuletas,
esta superficial constatação daquilo que vaga e divaga?
liberto seja o pensamento de explicações!
tudo é possível na liberdade espontaneísta das coisas!
(até o sublime é possível!)
assento-me e,
perdido,
não tenho lugar algum.
não há sinônimos para aquilo que sinto
e também não há paradoxos ou antíteses
que explicitem este consciente não saber das coisas,
que pairam e que carecem de explicações maiores.
do outro lado da rua, uma canção, um outro mundo.
que fácil, se soubesse eu, ser um pagador de promessas,
um anfitrião educado!
seria me dado um pouco de alento se eu soubesse coexistir
com aquilo que é apenas sofismado?
qual seria a semântica gratuita do pensar?
________________________________penetras,
__________________________________ putas,
_______________________________mendigos
______________e toda a sorte de sobreviventes,
___________________me ensinam a não temer,
a não tolher o que é desajuizado a muitos olhos...
ensinem-me a simplicidade dos passos
e o rumo dos caminhos difíceis!
suprimam, em mim, esta relevância noturna
que dou aos pequenos detalhes!
ensinem-me a dormir como se qualquer lugar, fosse
______________________________a minha casa!
para que eu jamais tenha que ficar a descobrir em que
paradeiro está o meu destino.
um grito fundo se evola através da ambiguidade
____________________destas palavras todas.
que créditos existem para aquele que pensa e não quer
fazer-se percebido e, quando se faz, provoca alaridos
e não contém o despejo de todos os dissabores,
nesta não seletividade do que é possível e não possível?
(a lua vai passando calmamente,
tão bela e tão moderna para a minha realidade.
vigia-me através deste círculo de outros séculos
a questionar o meu pensar e, por certo,
a não entender esta frívola existência minha).
os sonhos meus dizem adeus e fogem dos meus olhos.
é tão inevitável tentar não sentir,
mas com que força posso resistir se não resisto
ao fato simples,
a compreensão natural
de que posso querer tudo e não ser nada,
ser estada, apenas, para as coisas que sobrevivem para
__________________________________ a eternidade.
que pavorosos são os crimes e as confidências de minha
________________________________________carne!
sentir e não entender,
dar vazão ao que não se pode conter
e brincar de sobrevivência e de pensamentos tantos...
ajoelho-me, diante de ti,
nevoento e absurdo
dou-te os meus delírios,
numa desalmada penitência para os atos meus.
sei não ser crido e, sei também, não ser absolvido.
mas, que posso eu, nesta fúria de desencontros, senão,
prostrar-me numa orgia monstruosa e tocar os teus pés
que seguem para direções outras que não, âncora de mim.
a ti, apenas, o meu pedido derradeiro,
_______________a minha clemência!
lança-me as águas
e me deixa ignoto de latitudes de longitudes,
de portos ou ilhas.
faz com que se apague este fogo a me queimar a alma.
talvez eu encontre assim, em sufoco e espanto,
o entendimento das coisas que pairam, simplesmente
___________________________________por pairar.
que eu aprenda a desimportância do sentir,
compreendendo, assim,
a minha tolice nata para estas coisas irreais
que se materializam no coração
e fazem tudo ser tão seriamente construído.
[daufen bach.]


Dolores Jardim
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