MENINA-MOÇA
Feito o laço de prazer
Arranho-te no arder de nossos corpos
Burlando as leis do finito
Intocáveis ao sabor da descoberta...
Ainda sendo menina-moça
Notória luxúria nos envolve
Abrasados pelo sabor do desejo de amar...
SOLECANTO
Quero escrever sem a primeira pessoa
Cavalgar como Neruda na silhueta das mulheres
E na luta dos povos.
Ou como Vinícius, vívido em sonetos de Encontro, Despedida e tantos outros.
E ir além, mergulhar nos demorados e profundos poemas da vida.
Sentir vulvas, pêlos, suor e batalhas
Não passa apenas por mim.
Posso até sentir em ato ímpar,
Mas eu passo... morro
E a poesia fica! ...
FIM
Você foi embora...
Não sinto nada.
As lágrimas escondem
No meu coração de veraneio.
Para mim, retardatário
De carros de corrida,
Não entendia que
A festa tinha terminado.
Há muito tempo...
Ah! A distância é a mãe que aprisiona
E delimita todo varal de poesias,
Que antes variadas num realismo romântico,
Transformou-se em queda de arcanjos.
Às dez horas da madrugada,
O galo canta seu grito de despedida.
Hoje, nem a lua cheia aparece em céu límpido
Nem o sol aquecerá meu corpo traído.
O fim é o deserto sem répteis...
Balzaquiana
BALZAQUIANA
A você, mulher,
Que vive no mundo balzaquiano,
Continua em traços tão perfeitos,
Que remonta em ditos, feitos,
A perfeição que continua no passado.
Só que é mulher
Da mais rica e estonteante tristeza
Marca em seu olhar distante,
Um longo suspiro amante
Perdido em sua forma de buscar resistir
À sua profunda vontade de amar...
Pois amo sua esperança mulher,
Desejo seus espinhos, balzaquia mulher!...
NÃO SE CANSE
Não se canse, minha cara desconhecida,
Pois não abandonou macunaíma
E nem seus dentes em fotos de perfil.
Aguarde o acalanto das manhãs,
Roube seu beijo na cara dos covardes,
Alimente seu corpo com esperança rubra.
Não se canse, minha cara desconhecida,
Não há lugar para o cansaço quando apenas iniciou a andar,
não se curve, e nem perca as oportunidades das estradas,
Sorria pedindo água e beba suas tertúlias
de quem nasceu com os pecados de quaresma.
Não se canse, minha cara desconhecida,
saiba do valor e do sabor do futuro,
Das árvores que não pedem licença para crescer no natal,
E nem das medíocres traições em seu entorno.
Goze com a esperança dos vencidos
E se deleite com as metáforas de Mário de Andrade.
Não se canse, minha cara desconhecida!
Levante e ande...
E lute para descansar de suas futuras rugas de desilusões...
DESEJO
Olho para o seu corpo
Leio seus desejos
Imagino nossos corpos
Varando nossos sentidos
Entre o beijo e o lençol e...
Indo e vindo,
Roçar no sonho perdido
O amor que sinto por você...
MINAS QUE TARDIA
Até onde vou
Posso segurar o mar nas montanhas,
Onde falo, sinto e vivo,
Estarei indo ao vento de minha Minas,
Gritando por seu triângulo libertário.
Onde estou, como e calo,
Jogo no gargalo a pinga de família
Lacrada pelo latifúndio sombrio.
Onde choro, declamo meu penar.
Passo nas garoas sedutoras,
Sonhando com chuvas chorosas,
Bondosas, como a paz
Que ainda tardia...
RESISTIMOS
Resistimos,
Com tal zelo e prudência
Que a corja hipócrita
Não distingue nosso encanto
Com dor, fome e miséria.
Ah, coitados!
Não sentem que no mais puro pus
Há um corpo.
Esqueceram que da cinza
Há uma fênix de toda rebeldia
E se existe o silêncio
É porque estamos criando o eco
Da doce e ensolarada manhã...
Éric Meireles de Andrade
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