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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

JUDITH MARTINS

Ruge lá fora a ventania
e as árvores vergando, desfolhadas,
vão gemendo, como almas na agonia,
contorcidas, desvairadas.

À meia-noite,
a voz do sino, pesada e densa,
passa estridulando,
como se uma boca cavernosa, imensa,
nos predissesse negramente, malsinando!...

Há lares em festa -
e fome pelos caminhos
da desgraça.
E a minha amargura
vai subindo
na voragem funesta
de clamor que passa!

Meu Deus!
Por que é que os inocentes, pobrezinhos,
não têm pão?
Por que é que nesta noite em que nasceu Jesus
o Céu, não se sorri, cheio de luz?

Quebram-se soluços na rajada...
Exalo-me em tédio! vibra o meu tormento -
eu trago revestida a alma de saudades
nem eu já sei há quanto tempo!...

Sobre a seda vermelha que me envolve.
a luz vai entornando
vagas tonalidades - violetas...
e lá fora batalham peito a peito,
revolvendo as trevas ululando,
longos fantasmas
de negras silhuetas!


Judith Teixeira

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