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segunda-feira, 7 de julho de 2008

MAIA DE MELO LOPO



NO TEMPO

Ando perdida no vale escuro do teu corpo, ao longe algo triste se abate dentro de mim,
De dia galgo à procura da noite e de ti, o silêncio eterno cai por onde dorme a tua paz,
Ainda que me persiga nas encostas da minha vida, tu serás agonia da minha real cruz,
O luto se apaga, tomba o meu amor, e morta nas trevas posso estar onde teu corpo jaz, Suplico a saudade da tua boca, pétalas de rosas secam no sono final da tua ditosa luz.

Minha alma infeliz não se conforma, escurece a verdade filtrada, meu louco tormento,
Gosto tanto de ti que estou morta, morta de sagrado amor, e sózinha sempre írei estar,
Como pude dizer-te adeus, se teu olhar foi lenda secreta, astro poeta do fiel sentimento,
Fecharam-se para sempre teus olhos na minha dor, ardo no pesar e já amo sem a razão,
Coração em guerra, lanças de pavor, eu só dormirei em paz, se um dia te fôr encontrar.

Sem esperança vivo desinteressada, partiste no inverno branco e gela o azul do verão,
És o calvário no meu atroz suplício, terrível chaga das trémulas e implacáveis dores,
Não sei disfarçar o horrível, e na tua sombra o meu vulto não tem pé, braço, nem mão,
Golpe cruel, o monstro negro e infame deixa-me febril, animal de mágoa em soluços,
Minha agonia fareja o teu rosto e meu sangue não é essência nem perfume das flores.

Bebo o amargo veneno do demónio, louca embriago-me na cauda da manhã afrodisíaca,
Desvairada uivo como uma loba, na loucura engulo o suco das viscosas flores da morte,
Não tenho lar e na miséria sinto teu olhar materno, pobre de mim a viver meio maníaca.
Pesadelo espinho infernal, elixir, néctar que se mistura na minha carne e no teu destino,
Perdida na terra fúnebre, amortalha-se minha boca e em chamas arde na cruel má sorte.

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