Em meu mundo de encanto,repasso as poesias de amigos e de poetas que me fazem sentir o encanto da vida.
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sexta-feira, 11 de maio de 2012
"O breu"
(Foto- Elisa Lucinda)
O breu,
meu eu
Deus meu
Alguém chamou minha mãe
e não pediu a mim
Alguém de algum Deus, algum querubim
retirou-a de cena sem a minha permissão
Alguém arrancou-me o umbigo
sem falar comigo
Alguém, de alguma misteriosa verdade,
Puxou-lhe o fio da vida, a echarpe, a pipa, a idade
Alguém anjo a levou pra compor outro coral
Alguém roubou de mim a sua voz
e sua música que era o meu melhor vento
Adeus moqueca, adeus convento,
Alguém levou meu mundo, meu invento,
minha bruxa boa, meu ungüento
Estou ainda de vestido azul de bolinha
calcinha de babado, sentada na calçada, sozinha
Minha mãe não está na cozinha, no piano, na aula, na vizinha
Alguém badalou meia-noite e a Cinderela virou açoite, pernoite.
É breu, Deus... um buraco fundo, um vão sem chão, o infortúnio
Quero ao menos que, ao morrer o criador, não se vá também a criatura.
Está escuro, quero luz, dá-me a luz...
Alguém desatarraxou daqui minha lâmpada maravilhosa
Agora não posso mais ter febre
Agora ninguém mais reza e não há compressa
Agora eu estou com pressa.
(Da série "Divalda Blues")
LUCINDA, Elisa. "O breu". In: O semelhante. Rio de Janeiro, RJ: Record, 5ª ed., 2006,
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