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sábado, 8 de março de 2008

EVA


Tela Jack Vettriano



Eva

Já te basta a condição de parir,
de carregar as culpas da traição,
na originalidade do pecado
envenenado de maçã.
Porque te seduziu a serpente,
confrontaste a verdade da ciência
e do homem que criou Deus e o paraíso.
Foste clonada da costela de Adão,
planeada a preencheres
o vazio da solidão,
abrires-te à fecundação,
nunca pondo em causa,
o complexo da frustrante virilidade,
que te magoa as entranhas,
para que se cumpra a continuidade,
desejando-se que em dores sangrando,
nasça de ti um varão.
Outra filha da puta, não!
Criará sentimentos de contradição.
Serves para servir e para amar,
escrava mal amada,
cobiçada em vícios, prazeres…
Mal comparada, desprezada...
Sentes o infortúnio e a mágoa,
procurando sempre cumprir
e ser recompensada
em gratidão por deveres.
Se a coragem manifesta interrogações,
és amaldiçoada, contrariada, maltratada...
Se procuras corromper as amarras,
és apagada por quem usufrui,
as ferramentas da superficialidade
do conviver e do poder.
Se negas o contrato de união,
submissa à constante violação
e à categoria de esbarrigadeira,
passas a meretriz rafeira,
sem eira, nem beira,
que viva na clandestinidade da escuridão,
sem existir outra qualquer opção...

Mas a mulher descobriu as fraquezas
dos homens que carregou no ventre.
Aguentou a lonjura do tempo moralizado,
aniquilando as lanças da brutalidade instintiva,
herança primitiva das leis, da fé e dos costumes,
vencendo as eras e os azedumes...
De esperanças de chegar à igualdade
e assumir-se na importância
da efectiva força da maternidade,
dando à luz, parindo um mundo,
vigorosamente escorreito, humano e profundo.
Sem intento preconceituoso,
de segmentação sexuada,
mas pela união dos corpos em ternura,
na inteligência do amor por amor,
para que tudo seja pelo prazer desta aventura,
no eternizado anseio de viver melhor.

joão m. jacinto

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