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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Jorge Lima

DUAS OPÇÕES, MAS UMA SÓ ESCOLHA.

Uma família se vê diante de uma senhora inundação, estando por sobre parte do telhado que por enquanto ainda não fôra engolido pela água. A mãe, o filho e os avós maternos deste encontram-se lá, todos juntos, ao passo que impiedosamente a água sobe, um tanto faminta. 
Do outro lado da rua, ou melhor, do outro lado do rio, situa-se um lugar aparentemente seguro. Um prédio de dois andares, que ainda estava em fase de construção. Mas que para chegar até o mesmo, seria preciso enfrentar a força da correnteza cerca de vinte metros.
De repente, em meio a alguns destroços de madeira sendo arrastados, um pedaço de porta passa ao alcance da mãe, que naturalmente era quem liderava o grupo em perigo. Por pouco então ela não cai no rio da rua. Agora com uma espécie de prancha na mão, havia a real oportunidade de se salvar. De se salvar? Salvar a si, só?
Em casas vizinhas havia muita gente solidária com aquela mãe. Alguns sugeriam um caminho ou outro, de forma assim ou assada. No entanto a decisão só quem podia tomar era aquela mãe e filha ao mesmo tempo. Situação complicada. Enquanto isso, amigos, a água avança tal como tubarão indo atrás da presa, faltando quase nada para que a casa fique submersa por completo.
A porta então passa a ser examinada. Conclui-se que o peso da mãe, ela aguentaria. Mas somando-o com o do filho; daí a dúvida então boiava com força. A prancha poderia querer afundar em alguns momentos e o pior, que Deus os livrassem... Melhor nem dizer. O fato é que a travessia trazia medo.

- A prancha aguenta vocês dois, pode ir sem medo. Dizia uma voz.

- É melhor você ir sozinha primeiro pra lá, para o prédio, apanha de lá alguma peça de madeira maior que essa e volta pra pegar seu filho. Depois voltando de novo pra pegar seus pais. Disse outra voz.

Analisando bem a segunda opção, a mãe viu que poderia não dar tempo de voltar e pegar o filho, dada a forte chuva que ainda caía. Talvez desse tempo, talvez não. Enfim, a única certeza ali visível era que a indecisão trazia certo sufocamento a essa pobre mãe, como se ela já estivesse sendo afogada. Pois ela tinha de escolher, e não poderia mais demorar. Já que o rio da rua já cobria todo o teto da plataforma onde sua família se assegurava. A mãe, mesmo depois de muito titubear, agora enfim se sentiu empurrada por seu instinto. Antes d’ela tomar nos braços, seu filhote, olhou para os seus pais, os avós da criança. Com muito custo o neto saiu do braço deles, depois de um emocionante abraço de despedida.

- Vão à frente, meus amores. Não se preocupem conosco. Vocês têm muito mais tempo pra viver do que nós. Neste momento é a lógica natural das coisas quem decide.

O menino era muito apegado aos avós e foi com a mãe jorrando lágrimas rumo à arriscada travessia...

Mãe e filho juntos devem ter engolido uns quatro litros de água, mas enfim chegaram a salvos do outro lado. Os dois sofreram nessa travessia como todos também sofrem com outras formas de travessia.
Mas afinal eis que um helicóptero aparece com uma providencial corda, sendo arremessada em direção aos avós do dito menino. Eles até já se conformavam com a morte, mas o milagre acontecera.
JORGE LIMA, BELÉM-PA (22/10/2013)

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