Em meu mundo de encanto,repasso as poesias de amigos e de poetas que me fazem sentir o encanto da vida.
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domingo, 24 de janeiro de 2010
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
O ano se inicia.....assim com poesia!! JOÃO MARQUES JACINTO
: 
Poeta: João Marques Jacinto
Lisboa - Portugal
Tu, aí...
É bem possível que tenha chegado aos cem,
vivido, até aos cento e qualquer coisa, anos,
por que cada vez se morre mais tarde,
mas não sei, se da melhor maneira.
Mas se Tu, aí, onde estiveres,
tomares conhecimento desta mensagem,
e de minha existência e a quiseres mudar
em qualquer altura, a meu pedido,
fá-lo, agora, quando ainda tenho cinquenta, já feitos,
em dois mil e nove, do calendário gregoriano,
e outro tanto, possa ainda usufruir.
Que me encontro aqui, por Sete Rios,
pertencendo a uma espécie do reino animal, a Homo Sapiens,
na Lisboa da saudade, onde desagua o Tejo,
num pequeno país europeu, chamado Portugal,
e que é banhado pela imensidão do Atlântico,
no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,
onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à vida,
e pelo poder,
e pela sobrevivência,
e em nome de deus(es),
e por prazer,
localizado entre muitos biliões de outras estrelas da Via Láctea,
a que integra com mais de três dezenas de galáxias o Grupo Local,
no Superaglomerado de Virgem,
etc, etc, etc…
Liberta-me de vez deste Ego, enorme, doentio,
herança canceriana, que me abafa a inteligência
que me liga ao Universo,
que me prende à insignificância que não (pres)sinto,
e à Terra,
e à forma,
e ao estilo…
Por que sou o que nem sei,
e quero evoluir,
seguir o movimento da espiral,
sentir-me em casa,
e paz.
E não me canso de olhar para este céu,
onde se desenha o presente,
(relógio com dez ponteiros),
e de Te procurar mais além, nas estrelas,
mas se aí, Te visse estarias em outro tempo,
talvez, quando reinara o Luís XIV,
e eu aí, nem Te (re)conhecesse.
Haverá outro caminho,
e terei, sempre em dois mil e nove,
feito cinquenta,
e à Tua espera.
(http://manueldarosalina.blogspot.com/2010/01/tu-ai.html)
Afogando sonhos
Morro
sem saber de mim,
sem ninguém me encontrar,
perdido no escuro
do teu silêncio,
com lembranças
de sabor salgado...
Morro
triste de só,
deitado em areias de egoísmo,
na praia das fantasias,
sem dunas,
de ondas nunca festejadas,
sentindo-te no movimento
do mar...
Morro
sem saber de nós,
afogando sonhos,
devagar,
devagar,
devagar.
João Marques Jacinto
Canto proibido
Num sopro de alegria,
sem a métrica do tempo,
o canto pronunciado
por entre o vermelho
erógeno dos lábios.
O bafo quente das sensações,
em chilreados sons,
soletrando mágicas
e ardentes palavras
nas cores dos sentidos da vida,
que fluem do labirinto das imagens
proibidas da memória,
espelhadas entre sonhos,
desespero, dor, desilusão...
É o desejo que emerge,
o grito pelo silêncio calcinado,
que dá forma a um corpo inteiro,
despertado para a glória do amanhã,
coroado e iluminado de estrelas
dos tectos de cada céu.
Em uníssono cantaremos
embriagados sem saudades,
despidos de grades,
limpos de espinhos,
esquecidos de preconceitos,
persistindo no deglutir do fruto
que nos devolveu a liberdade
de saborear o pecado
e sermos gente desprotegida
pelos donos de uma trama
e de um inimaginável jardim.
João Marques Jacinto
Renascer de mim
Envolto por uma nuvem
da cor do sossego,
num céu carregado de anil,
raiado de violeta,
como feto dentro de mater útero.
Luto instintivamente, em desespero,
para sobreviver sem dor ao parto.
Nascerei sete luas, antes do desígnio,
depois de uma gestação
de três infindáveis invernos
e de quatro não chilreadas primaveras.
Ainda não sei se nasci
ou se são as memórias de ter morrido.
Pousarei na suavidade do berço
as cansadas emoções,
sem saudade,
nem lembranças...
Quero olhar o firmamento
e perder-me a contar estrelas,
mas de pé,
seguro pela Terra.
João Marques Jacinto
Procura
Dói-me nas palavras
o sentido que não emprego,
a vontade que encubro.
No significado vazio
dos meus sentimentos,
sinto-me perdido,
sonhando com a coragem
de me encontrar.
Doiem-me as memórias
deste corpo envelhecido
de crescer,
que espera sucumbir,
compreendendo a pureza do amor.
João Marques Jacinto
Desencontro
Hoje, não te consigo dizer nada.
Esforço-me e não consigo pensar.
Perco-me no desejo de te falar,
luto com as palavras,
sem que as soletre,
vejo-te sem palavras,
para me ajudares.
Perturbado pelo silêncio,
caio num sono profundo,
esquecido de ter que acordar.
João Marques Jacinto
Voyeur
De dia,
passeio-me pelas ruas,
intruso,
anónimo,
vestido de multidão,
matando a curiosidade
instintiva dos sentidos.
Retratista promíscuo;
olhar disfarce de vazio abstracto,
calçando o tempo,
sobre a solidão da caminhada,
captando ângulos e planos,
imagens à contemplação certa
do prazer erotizado.
Rostos belos,
de semblante perfeitos,
expressões despidas de agrados,
sem sorrisos esboçados de submissão,
não forçados...
Corpos puros,
desnudados por suor,
de transparência atrevidos,
escorreitos de ingenuidade,
mexidos de desejo,
talhados de vivas formas,
curvas apertadas
de desenho intenso de paixão,
bem delineado,
na arte da procriação...
À noite
deleito-me,
embalado por estímulos inteligentes,
por palavras que me ditam
sentimentos profundos,
que se articulam silenciadas
por entre erógenos lábios,
ao sabor da imaginação,
em galopantes fantasias...
Provoca-me
a insinuosa sabedoria
de quem quer ser entendido
e excitar-me ao crescimento...
Adormeço,
entre as memórias
de um inesquecível dia,
com o livro aberto
em parte incerta.
João Marques Jacinto
Jardim da vida
Que os ventos da esperança
soltem as folhas da paz
e que amadureçam os frutos do amor...
Que seja a nossa alma
lavrada e aberta,
nasçam da semente
a raiz de um novo tempo,
as palavras árvore,
de troncos sabedoria,
sem os genes do Génesis;
sem serpente,
nem pecado...
No jardim da vida,
de luxuriante primavera,
com cânticos de louva-a-deus.
João Marques Jacinto
Ainda é tempo
Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se em contrariedade,
a arrogância do preconceito,
sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador,
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo,
foge-se do amor.
Cobre-se de negro
o espelho que reflicta
a coragem da alma,
habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente,
no arrependimento
de nunca se ter vivido.
Impera a inteligência do Espírito,
ainda é tempo de abundância,
na riqueza de ser feliz,
diferente,
Eu.
João Marques Jacinto
Chuva
Dia de chuva,
alma triste e molhada,
são rios de rua,
cúpula de mágoa rasgada.
O Sol trocou-se de nuvem,
tão cedo entardeceu,
são cheias de ninguém,
enxurradas do eu.
Trovoadas de espanto,
vendavais por meu degredo,
na tempestade deste meu canto
soam os trovões do medo.
Sonhos ansiosos por bonança,
em arrepios de solidão,
acendalham-se de esperança
lareiras de multidão.
De arco-íris se alterou
o confuso azul do céu,
a vida depressa enxugou
e o meu dilúvio morreu.
João Marques Jacinto
Pausa
Esta é uma pausa triste,
é silêncio que incomoda
em qualquer momento,
é o desespero
pela imaturidade
da compreensão,
é conter o impulso
da racionalidade,
é uma morte
indesejada,
é continuar
a amar-te e a sofrer,
mesmo sem nada,
é uma noite
escura de tudo,
em profunda solidão,
na saudade
de ser dia,
ontem.
Tenho tanta pena de nós.
João Marques Jacinto
Resplandecente
Hoje, foste a alvorada
mais resplandecente
que despertou
os meus sentidos.
A tranquilidade
que animou,
em vontade,
a minha alma
já apagada,
por tantas derrotas
e desilusões.
Estou orgulhoso de ti!
Gosto tanto do teu sorriso
aberto para o mundo,
e feliz,
agarrando vida,
na riqueza da expressão.
És ainda mais bonita;
um arco-íris
que sobressai
do meu enublado cinzento,
em feixe de ternurenta paixão.
João Marques Jacinto
Fuga
Foste rio,
correndo pelo vale
dos meus sentidos,
tocando e preenchendo
as minhas margens,
arrastando na corrente
as minhas mágoas,
onde matava a sede;
no leito maior da tua essência.
Rodeado
pelo horizonte da tua forma
sentia a brisa quente,
de quem expira
com ternura,
sopro que deslizava
na minha pele,
num deleitável
e breve encontro.
Eras o Sol do meio-dia,
brilhando por cima da minha vida.
Não sei por que fugi,
procurando na sombra a protecção,
refugiando-me alucinado
no crepúsculo da tarde
esquecido e perdido de ti.
Acabei por morrer
na noite mais longa de escuridão,
por que nunca mais voltou
a ser dia dentro de mim.
João Marques Jacinto
Espelho meu
Quero curar-me
das crostas empedernidas,
das chagas que teimam
em não cicatrizar,
envoltas de pus,
infectadas de raiva...
Quero
ter na vontade
o segredo da cura,
a percepção do tempo da dor,
resistir à constante comichão,
para não voltar a sangrar
ao pôr o dedo na ferida,
no escarafunchar do confronto
com as mágoas.
Quero uma pele limpa de cicatrizes,
sem vincos de receios mal dormidos,
sem rugas de tristezas guardadas,
sem golpes, que me trespassem a alma...
Quero que seja o espelho, que me mire.
Olhá-lo?!... Não pretendo mais magoar-me!
João Marques Jacinto
Beijo da luz
Esta ilusória paz
de compreensivos afectos,
que acompanha o lento
e belo Sol estival descendo
num milagre de ouro e escarlate,
afundando-se nas profundezas
do mar dos meus enganos,
defronte à minha alma...
Ficando a saudade,
depois do beijo da despedida,
no tocar suave o contorno
de infinitos e horizonte lábios.
E eu, arrefecendo no escuro,
persistindo noite,
esperando sentir a coragem
de um firme e convicto impulso;
o beijo da luz.
O que me faça transpirar
e sentir dia,
na plenitude do tempo.
João Marques Jacinto
Solitários
A alma não tem sexo.
O sexo não tem corpo.
O corpo é espelho,
que reflecte a força
da inteligente capacidade
de explorar, sentir, vibrar,
em êxtase,
as alegrias do prazer,
da partilha, em amor.
Assumidos desejos
e vontades,
vencendo lutos e medos,
a hipocrisia dos frustrados;
solitários empobrecidos
incapazes de descobrir a felicidade
dentro de seu enfraquecido coração,
já cansado de não saber dar,
nem tão pouco receber.
João Marques Jacinto
Amar, depender
Amar,
criar raízes ao tempo,
entrelaçadas de carinho,
envolvidas no ventre da terra mãe,
com a força dos sentidos,
no silêncio das palavras...
Explodindo troncos
de verdejantes primaveras,
com a promessa das sementes,
sob a simbologia
dos códigos indecifráveis
dos céus e dos deuses.
Ser possuído
pelo místico e enternecedor
sorriso da paixão,
visível no oriente secreto
das manhãs douradas
de nossas esperanças,
onde a consciência se levanta, confusa,
por entre neblinas de desejos
e brisas de doces emoções,
espelhando-se de luminosidade,
na cheia e fecunda Lua,
que se recolhe de tímida,
no horizonte do passado,
de nossas (in)seguranças.
Amar, depender,
é na perplexidade da sobrevivência,
a saudável virtude
de transcendermos os nossos medos,
o casulo da nossa solidão,
no feliz e inesperado encontro,
com quem toda a vida nos procurou.
João Marques Jacinto
Não saber ser de mim
Procuro matar as saudades,
sem descanso que viva.
Não me sei preencher
do vazio que de ti sobrou.
Varro da memória,
o longe,
o não querer entender
o não saber ser de mim,
no sonho que se enriqueceu de nós.
Acho na (des)ilusão
o esconderijo para o sofrimento
e tardam as palavras...
Continuo preso
na esquina do só,
ouço as passadas do teu caminho
e percorro entristecido
o labirinto construído de medos,
sem abrir as janelas ao sossego.
Julgo a pretensão da culpa
pelo desejo de partilha,
em detrimento
do teu defensivo orgulho.
Aguardo,
que me descubras,
sem olhar o movimento do relógio.
João Marques Jacinto
Cobardia
Observo impune,
critico abusivamente,
condeno inflexível,
culpabilizo sem dor,
recrimino sem piedade,
forço a confissão,
propagandeio a ameaça,
difamo aos ventos
e em pública praça.
Invento o que me convém,
exagero ao pormenor,
omito o que serve a dúvida
e atiro a primeira pedra.
Quero um marginal,
não perdoável,
um alvo fácil
de se corromper,
que não se defenda,
onde eu me proteja,
mascarando a cobardia...
A revolta indignada
é o reverso do medo.
Aproveito-me da vítima,
para de mim me esconder.
Ai, que de mim, ouça nada!
Quero ser como me dou,
nunca parecer o que sou!
João Marques Jacinto
Conteúdos de amar
Procurei no tempo
a vontade para me amar;
nunca encontrei horas,
nem dias disponíveis.
Vivo multiplicado
de insatisfação,
cedendo à exigência,
de quem frustrado
ama a minha obediência,
o meu perturbado silêncio,
e castigo o impulso do não.
Viciado no prazer dos outros,
sou o enforcado,
estrangulado de anulação...
Ou o ramo da virtude,
que se quebre
com a obesa dor
e caia a liberdade
de quem me queira bem,
de quem me oriente
no caminho não periférico
do meu amor.
Não há formas de ser,
mas conteúdos de amar.
João Marques Jacinto
Escadas
Olha-os, lá de cima,
onde habitas
transitoriamente
na tua evolução.
Não percas tempo
no degrau
por ti, já pisado,
no longínquo passado.
Eleva-te com firmeza
no lance seguinte.
Apoia-te no corrimão,
alcança o patamar
e abre essas portas
de provações trancadas.
Que mania
de descer e subir
escadas...
João Marques Jacinto
Fui criança
Fui ver-me
no jardim a brincar,
pedalando com vontade
o triciclo da esperança,
a sorrir.
E chorei.
Saudades
daquela criança
e do mundo
que sonhei.
João Marques Jacinto
Não sei
Eu pensava de ti,
o que querias sentir.
E acreditava no que via,
quando exibias para mim,
o que em ti desejava.
Eu não sei
quem tu és.
Tu, também não.
João Marques Jacinto
Cadeado
A valorização crítica,
e excessiva,
que deposito na envolvência
íntima dos afectos,
não será somente
a projecção dos meus medos,
pelo indecifrável
de minhas inseguranças,
mas também do meu
incontrolável egoísmo,
na incapacidade de assumir
as cotas de minha culpa.
Eu tenho a chave
que me pode destrancar
e fazer sair da cela do meu orgulho,
da solidão.
Difícil será acertar na ranhura
deste ferrugento
e desusado cadeado.
Tentarei
as vidas que forem precisas.
Em liberdade
poderei cair de novo,
na armadilha idealista e contraditória
do oceano da minha afectividade,
e afundar-me de paixão.
João Marques Jacinto
Idealista
No desejo de sonhar e acreditar
no lado sublime do ser,
tropeço nas verdades
e caio magoado no chão do inevitável.
Somente eu,
me recusei a ver.
Esgoto-me em dádiva
com a determinação
de um vencido.
Sou pobre,
de tesouros
cheio,
ainda por abrir.
A chave
é o tempo.
João Marques Jacinto
Presente
Vendes-te ao desafio
de teus instintos
e vazios desejos,
como se nada
de mais possante
e sublime
existisse em ti.
Tens medo
das verdades
da face interior
de tua persona.
Optas,
por viver
resguardado
na sombra
e numa trama
de silêncios
e pausas...
Finges a perfeição,
quando se deve ser
humano.
O caminho
é desbravado
em cada passada,
na tranquilidade
de cada momento,
erecto,
atento.
Por vezes,
deixa-se para trás,
demasiado rápido,
o presente,
sem questionar
a sua preciosa riqueza.
João Marques Jacinto
Parecidos
Somos todos iguais,
mas queremos persistir na diferença,
ser no pretensiosismo
mais parecidos
com os que são únicos,
deuses, imortais...
Acabamos por pecar no original;
mata-borrões convencidos,
menos idênticos
na simplicidade da verdade.
Cópias de manchas
não definidas, negras,
repetidas de imperfeição,
algumas já sumidas,
convictas de lucidez
e sabedoria,
apregoando teoria,
explicitando experiências,
tudo o que foi aprendido, sofrido,
dominando sapiência,
a moralidade do amor,
o conhecimento do bom sobreviver...
Ocultando às claras as suas tocas,
malabaristicamente estimulando, fingindo,
idealisticamente criticando,
numa terapia de quem se procura na utopia,
acreditando ser único,
o melhor,
e eterno.
João Marques Jacinto
Jura
Jura quem em desespero
quer negar a verdade que dói,
com apelos misericordiosos
ao drama dos detalhes, à pena,
para confundir, na importância,
o julgamento maior.
Será julgado pelo remorso,
morrendo no medo de não resistir
à vergonha da descoberta,
acabando por sucumbir
no nó, que em solidão
tanto aperta.
Mente
quem jura!
João Marques Jacinto
Surdez
Desejo a todo o momento,
que se quebre o silêncio.
Procuro em todos os sons
a cura para a minha surdez.
Louco por nada ouvir,
por nada saber,
crio a melodia da solidão
ao ritmo incerto do tempo,
em acordes de dor e medo.
Difícil será ouvir de novo,
com a mesma vontade.
Ensaio na razão
o barulho que liberte
os recalcados ressentimentos.
João Marques Jacinto
Fingidor
Escrevo-me
todos os dias,
e passo-me a limpo
para o papel,
quando tenho tempo
para fingir de poeta.
A minha caneta
está esgotada
e sem tinta.
João Marques Jacinto
(Re)cantos da Lua

Poeta: João Marques Jacinto
Lisboa - Portugal
Tu, aí...
É bem possível que tenha chegado aos cem,
vivido, até aos cento e qualquer coisa, anos,
por que cada vez se morre mais tarde,
mas não sei, se da melhor maneira.
Mas se Tu, aí, onde estiveres,
tomares conhecimento desta mensagem,
e de minha existência e a quiseres mudar
em qualquer altura, a meu pedido,
fá-lo, agora, quando ainda tenho cinquenta, já feitos,
em dois mil e nove, do calendário gregoriano,
e outro tanto, possa ainda usufruir.
Que me encontro aqui, por Sete Rios,
pertencendo a uma espécie do reino animal, a Homo Sapiens,
na Lisboa da saudade, onde desagua o Tejo,
num pequeno país europeu, chamado Portugal,
e que é banhado pela imensidão do Atlântico,
no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,
onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à vida,
e pelo poder,
e pela sobrevivência,
e em nome de deus(es),
e por prazer,
localizado entre muitos biliões de outras estrelas da Via Láctea,
a que integra com mais de três dezenas de galáxias o Grupo Local,
no Superaglomerado de Virgem,
etc, etc, etc…
Liberta-me de vez deste Ego, enorme, doentio,
herança canceriana, que me abafa a inteligência
que me liga ao Universo,
que me prende à insignificância que não (pres)sinto,
e à Terra,
e à forma,
e ao estilo…
Por que sou o que nem sei,
e quero evoluir,
seguir o movimento da espiral,
sentir-me em casa,
e paz.
E não me canso de olhar para este céu,
onde se desenha o presente,
(relógio com dez ponteiros),
e de Te procurar mais além, nas estrelas,
mas se aí, Te visse estarias em outro tempo,
talvez, quando reinara o Luís XIV,
e eu aí, nem Te (re)conhecesse.
Haverá outro caminho,
e terei, sempre em dois mil e nove,
feito cinquenta,
e à Tua espera.
(http://manueldarosalina.blogspot.com/2010/01/tu-ai.html)
Afogando sonhos
Morro
sem saber de mim,
sem ninguém me encontrar,
perdido no escuro
do teu silêncio,
com lembranças
de sabor salgado...
Morro
triste de só,
deitado em areias de egoísmo,
na praia das fantasias,
sem dunas,
de ondas nunca festejadas,
sentindo-te no movimento
do mar...
Morro
sem saber de nós,
afogando sonhos,
devagar,
devagar,
devagar.
João Marques Jacinto
Canto proibido
Num sopro de alegria,
sem a métrica do tempo,
o canto pronunciado
por entre o vermelho
erógeno dos lábios.
O bafo quente das sensações,
em chilreados sons,
soletrando mágicas
e ardentes palavras
nas cores dos sentidos da vida,
que fluem do labirinto das imagens
proibidas da memória,
espelhadas entre sonhos,
desespero, dor, desilusão...
É o desejo que emerge,
o grito pelo silêncio calcinado,
que dá forma a um corpo inteiro,
despertado para a glória do amanhã,
coroado e iluminado de estrelas
dos tectos de cada céu.
Em uníssono cantaremos
embriagados sem saudades,
despidos de grades,
limpos de espinhos,
esquecidos de preconceitos,
persistindo no deglutir do fruto
que nos devolveu a liberdade
de saborear o pecado
e sermos gente desprotegida
pelos donos de uma trama
e de um inimaginável jardim.
João Marques Jacinto
Renascer de mim
Envolto por uma nuvem
da cor do sossego,
num céu carregado de anil,
raiado de violeta,
como feto dentro de mater útero.
Luto instintivamente, em desespero,
para sobreviver sem dor ao parto.
Nascerei sete luas, antes do desígnio,
depois de uma gestação
de três infindáveis invernos
e de quatro não chilreadas primaveras.
Ainda não sei se nasci
ou se são as memórias de ter morrido.
Pousarei na suavidade do berço
as cansadas emoções,
sem saudade,
nem lembranças...
Quero olhar o firmamento
e perder-me a contar estrelas,
mas de pé,
seguro pela Terra.
João Marques Jacinto
Procura
Dói-me nas palavras
o sentido que não emprego,
a vontade que encubro.
No significado vazio
dos meus sentimentos,
sinto-me perdido,
sonhando com a coragem
de me encontrar.
Doiem-me as memórias
deste corpo envelhecido
de crescer,
que espera sucumbir,
compreendendo a pureza do amor.
João Marques Jacinto
Desencontro
Hoje, não te consigo dizer nada.
Esforço-me e não consigo pensar.
Perco-me no desejo de te falar,
luto com as palavras,
sem que as soletre,
vejo-te sem palavras,
para me ajudares.
Perturbado pelo silêncio,
caio num sono profundo,
esquecido de ter que acordar.
João Marques Jacinto
Voyeur
De dia,
passeio-me pelas ruas,
intruso,
anónimo,
vestido de multidão,
matando a curiosidade
instintiva dos sentidos.
Retratista promíscuo;
olhar disfarce de vazio abstracto,
calçando o tempo,
sobre a solidão da caminhada,
captando ângulos e planos,
imagens à contemplação certa
do prazer erotizado.
Rostos belos,
de semblante perfeitos,
expressões despidas de agrados,
sem sorrisos esboçados de submissão,
não forçados...
Corpos puros,
desnudados por suor,
de transparência atrevidos,
escorreitos de ingenuidade,
mexidos de desejo,
talhados de vivas formas,
curvas apertadas
de desenho intenso de paixão,
bem delineado,
na arte da procriação...
À noite
deleito-me,
embalado por estímulos inteligentes,
por palavras que me ditam
sentimentos profundos,
que se articulam silenciadas
por entre erógenos lábios,
ao sabor da imaginação,
em galopantes fantasias...
Provoca-me
a insinuosa sabedoria
de quem quer ser entendido
e excitar-me ao crescimento...
Adormeço,
entre as memórias
de um inesquecível dia,
com o livro aberto
em parte incerta.
João Marques Jacinto
Jardim da vida
Que os ventos da esperança
soltem as folhas da paz
e que amadureçam os frutos do amor...
Que seja a nossa alma
lavrada e aberta,
nasçam da semente
a raiz de um novo tempo,
as palavras árvore,
de troncos sabedoria,
sem os genes do Génesis;
sem serpente,
nem pecado...
No jardim da vida,
de luxuriante primavera,
com cânticos de louva-a-deus.
João Marques Jacinto
Ainda é tempo
Não se herda a pobreza,
cresce-se de cegueira,
sofre-se submisso à culpa,
respeita-se em contrariedade,
a arrogância do preconceito,
sonha-se a dormir,
corre-se de pé,
luta-se com medo,
estimula-se o amador,
nega-se a aventura,
silencia-se o desejo,
foge-se do amor.
Cobre-se de negro
o espelho que reflicta
a coragem da alma,
habita-se na solidão
de um metro quadrado
e morre-se rodeado de gente,
no arrependimento
de nunca se ter vivido.
Impera a inteligência do Espírito,
ainda é tempo de abundância,
na riqueza de ser feliz,
diferente,
Eu.
João Marques Jacinto
Chuva
Dia de chuva,
alma triste e molhada,
são rios de rua,
cúpula de mágoa rasgada.
O Sol trocou-se de nuvem,
tão cedo entardeceu,
são cheias de ninguém,
enxurradas do eu.
Trovoadas de espanto,
vendavais por meu degredo,
na tempestade deste meu canto
soam os trovões do medo.
Sonhos ansiosos por bonança,
em arrepios de solidão,
acendalham-se de esperança
lareiras de multidão.
De arco-íris se alterou
o confuso azul do céu,
a vida depressa enxugou
e o meu dilúvio morreu.
João Marques Jacinto
Pausa
Esta é uma pausa triste,
é silêncio que incomoda
em qualquer momento,
é o desespero
pela imaturidade
da compreensão,
é conter o impulso
da racionalidade,
é uma morte
indesejada,
é continuar
a amar-te e a sofrer,
mesmo sem nada,
é uma noite
escura de tudo,
em profunda solidão,
na saudade
de ser dia,
ontem.
Tenho tanta pena de nós.
João Marques Jacinto
Resplandecente
Hoje, foste a alvorada
mais resplandecente
que despertou
os meus sentidos.
A tranquilidade
que animou,
em vontade,
a minha alma
já apagada,
por tantas derrotas
e desilusões.
Estou orgulhoso de ti!
Gosto tanto do teu sorriso
aberto para o mundo,
e feliz,
agarrando vida,
na riqueza da expressão.
És ainda mais bonita;
um arco-íris
que sobressai
do meu enublado cinzento,
em feixe de ternurenta paixão.
João Marques Jacinto
Fuga
Foste rio,
correndo pelo vale
dos meus sentidos,
tocando e preenchendo
as minhas margens,
arrastando na corrente
as minhas mágoas,
onde matava a sede;
no leito maior da tua essência.
Rodeado
pelo horizonte da tua forma
sentia a brisa quente,
de quem expira
com ternura,
sopro que deslizava
na minha pele,
num deleitável
e breve encontro.
Eras o Sol do meio-dia,
brilhando por cima da minha vida.
Não sei por que fugi,
procurando na sombra a protecção,
refugiando-me alucinado
no crepúsculo da tarde
esquecido e perdido de ti.
Acabei por morrer
na noite mais longa de escuridão,
por que nunca mais voltou
a ser dia dentro de mim.
João Marques Jacinto
Espelho meu
Quero curar-me
das crostas empedernidas,
das chagas que teimam
em não cicatrizar,
envoltas de pus,
infectadas de raiva...
Quero
ter na vontade
o segredo da cura,
a percepção do tempo da dor,
resistir à constante comichão,
para não voltar a sangrar
ao pôr o dedo na ferida,
no escarafunchar do confronto
com as mágoas.
Quero uma pele limpa de cicatrizes,
sem vincos de receios mal dormidos,
sem rugas de tristezas guardadas,
sem golpes, que me trespassem a alma...
Quero que seja o espelho, que me mire.
Olhá-lo?!... Não pretendo mais magoar-me!
João Marques Jacinto
Beijo da luz
Esta ilusória paz
de compreensivos afectos,
que acompanha o lento
e belo Sol estival descendo
num milagre de ouro e escarlate,
afundando-se nas profundezas
do mar dos meus enganos,
defronte à minha alma...
Ficando a saudade,
depois do beijo da despedida,
no tocar suave o contorno
de infinitos e horizonte lábios.
E eu, arrefecendo no escuro,
persistindo noite,
esperando sentir a coragem
de um firme e convicto impulso;
o beijo da luz.
O que me faça transpirar
e sentir dia,
na plenitude do tempo.
João Marques Jacinto
Solitários
A alma não tem sexo.
O sexo não tem corpo.
O corpo é espelho,
que reflecte a força
da inteligente capacidade
de explorar, sentir, vibrar,
em êxtase,
as alegrias do prazer,
da partilha, em amor.
Assumidos desejos
e vontades,
vencendo lutos e medos,
a hipocrisia dos frustrados;
solitários empobrecidos
incapazes de descobrir a felicidade
dentro de seu enfraquecido coração,
já cansado de não saber dar,
nem tão pouco receber.
João Marques Jacinto
Amar, depender
Amar,
criar raízes ao tempo,
entrelaçadas de carinho,
envolvidas no ventre da terra mãe,
com a força dos sentidos,
no silêncio das palavras...
Explodindo troncos
de verdejantes primaveras,
com a promessa das sementes,
sob a simbologia
dos códigos indecifráveis
dos céus e dos deuses.
Ser possuído
pelo místico e enternecedor
sorriso da paixão,
visível no oriente secreto
das manhãs douradas
de nossas esperanças,
onde a consciência se levanta, confusa,
por entre neblinas de desejos
e brisas de doces emoções,
espelhando-se de luminosidade,
na cheia e fecunda Lua,
que se recolhe de tímida,
no horizonte do passado,
de nossas (in)seguranças.
Amar, depender,
é na perplexidade da sobrevivência,
a saudável virtude
de transcendermos os nossos medos,
o casulo da nossa solidão,
no feliz e inesperado encontro,
com quem toda a vida nos procurou.
João Marques Jacinto
Não saber ser de mim
Procuro matar as saudades,
sem descanso que viva.
Não me sei preencher
do vazio que de ti sobrou.
Varro da memória,
o longe,
o não querer entender
o não saber ser de mim,
no sonho que se enriqueceu de nós.
Acho na (des)ilusão
o esconderijo para o sofrimento
e tardam as palavras...
Continuo preso
na esquina do só,
ouço as passadas do teu caminho
e percorro entristecido
o labirinto construído de medos,
sem abrir as janelas ao sossego.
Julgo a pretensão da culpa
pelo desejo de partilha,
em detrimento
do teu defensivo orgulho.
Aguardo,
que me descubras,
sem olhar o movimento do relógio.
João Marques Jacinto
Cobardia
Observo impune,
critico abusivamente,
condeno inflexível,
culpabilizo sem dor,
recrimino sem piedade,
forço a confissão,
propagandeio a ameaça,
difamo aos ventos
e em pública praça.
Invento o que me convém,
exagero ao pormenor,
omito o que serve a dúvida
e atiro a primeira pedra.
Quero um marginal,
não perdoável,
um alvo fácil
de se corromper,
que não se defenda,
onde eu me proteja,
mascarando a cobardia...
A revolta indignada
é o reverso do medo.
Aproveito-me da vítima,
para de mim me esconder.
Ai, que de mim, ouça nada!
Quero ser como me dou,
nunca parecer o que sou!
João Marques Jacinto
Conteúdos de amar
Procurei no tempo
a vontade para me amar;
nunca encontrei horas,
nem dias disponíveis.
Vivo multiplicado
de insatisfação,
cedendo à exigência,
de quem frustrado
ama a minha obediência,
o meu perturbado silêncio,
e castigo o impulso do não.
Viciado no prazer dos outros,
sou o enforcado,
estrangulado de anulação...
Ou o ramo da virtude,
que se quebre
com a obesa dor
e caia a liberdade
de quem me queira bem,
de quem me oriente
no caminho não periférico
do meu amor.
Não há formas de ser,
mas conteúdos de amar.
João Marques Jacinto
Escadas
Olha-os, lá de cima,
onde habitas
transitoriamente
na tua evolução.
Não percas tempo
no degrau
por ti, já pisado,
no longínquo passado.
Eleva-te com firmeza
no lance seguinte.
Apoia-te no corrimão,
alcança o patamar
e abre essas portas
de provações trancadas.
Que mania
de descer e subir
escadas...
João Marques Jacinto
Fui criança
Fui ver-me
no jardim a brincar,
pedalando com vontade
o triciclo da esperança,
a sorrir.
E chorei.
Saudades
daquela criança
e do mundo
que sonhei.
João Marques Jacinto
Não sei
Eu pensava de ti,
o que querias sentir.
E acreditava no que via,
quando exibias para mim,
o que em ti desejava.
Eu não sei
quem tu és.
Tu, também não.
João Marques Jacinto
Cadeado
A valorização crítica,
e excessiva,
que deposito na envolvência
íntima dos afectos,
não será somente
a projecção dos meus medos,
pelo indecifrável
de minhas inseguranças,
mas também do meu
incontrolável egoísmo,
na incapacidade de assumir
as cotas de minha culpa.
Eu tenho a chave
que me pode destrancar
e fazer sair da cela do meu orgulho,
da solidão.
Difícil será acertar na ranhura
deste ferrugento
e desusado cadeado.
Tentarei
as vidas que forem precisas.
Em liberdade
poderei cair de novo,
na armadilha idealista e contraditória
do oceano da minha afectividade,
e afundar-me de paixão.
João Marques Jacinto
Idealista
No desejo de sonhar e acreditar
no lado sublime do ser,
tropeço nas verdades
e caio magoado no chão do inevitável.
Somente eu,
me recusei a ver.
Esgoto-me em dádiva
com a determinação
de um vencido.
Sou pobre,
de tesouros
cheio,
ainda por abrir.
A chave
é o tempo.
João Marques Jacinto
Presente
Vendes-te ao desafio
de teus instintos
e vazios desejos,
como se nada
de mais possante
e sublime
existisse em ti.
Tens medo
das verdades
da face interior
de tua persona.
Optas,
por viver
resguardado
na sombra
e numa trama
de silêncios
e pausas...
Finges a perfeição,
quando se deve ser
humano.
O caminho
é desbravado
em cada passada,
na tranquilidade
de cada momento,
erecto,
atento.
Por vezes,
deixa-se para trás,
demasiado rápido,
o presente,
sem questionar
a sua preciosa riqueza.
João Marques Jacinto
Parecidos
Somos todos iguais,
mas queremos persistir na diferença,
ser no pretensiosismo
mais parecidos
com os que são únicos,
deuses, imortais...
Acabamos por pecar no original;
mata-borrões convencidos,
menos idênticos
na simplicidade da verdade.
Cópias de manchas
não definidas, negras,
repetidas de imperfeição,
algumas já sumidas,
convictas de lucidez
e sabedoria,
apregoando teoria,
explicitando experiências,
tudo o que foi aprendido, sofrido,
dominando sapiência,
a moralidade do amor,
o conhecimento do bom sobreviver...
Ocultando às claras as suas tocas,
malabaristicamente estimulando, fingindo,
idealisticamente criticando,
numa terapia de quem se procura na utopia,
acreditando ser único,
o melhor,
e eterno.
João Marques Jacinto
Jura
Jura quem em desespero
quer negar a verdade que dói,
com apelos misericordiosos
ao drama dos detalhes, à pena,
para confundir, na importância,
o julgamento maior.
Será julgado pelo remorso,
morrendo no medo de não resistir
à vergonha da descoberta,
acabando por sucumbir
no nó, que em solidão
tanto aperta.
Mente
quem jura!
João Marques Jacinto
Surdez
Desejo a todo o momento,
que se quebre o silêncio.
Procuro em todos os sons
a cura para a minha surdez.
Louco por nada ouvir,
por nada saber,
crio a melodia da solidão
ao ritmo incerto do tempo,
em acordes de dor e medo.
Difícil será ouvir de novo,
com a mesma vontade.
Ensaio na razão
o barulho que liberte
os recalcados ressentimentos.
João Marques Jacinto
Fingidor
Escrevo-me
todos os dias,
e passo-me a limpo
para o papel,
quando tenho tempo
para fingir de poeta.
A minha caneta
está esgotada
e sem tinta.
João Marques Jacinto
(Re)cantos da Lua
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Dolores Jardim
sábado, 16 de janeiro de 2010
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