Seguidores

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

FESTIVAL DE POEMAS DE JOÃO JACINTO

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Tenho um sonho
que não me pertence.
Não consigo encontrar
a razão que o sustenta.
E continuo sem querer
a sonhar,
para que seja meu
esse sonho
e eu possa ser outro
para o viver.

Continuo
sem saber sonhar,
sem me surpreender,
sem estruturas,
iludido ao que não sei;
mas vem de mim.

Ainda, não o posso matar,
para que eu não morra.

joão m. jacinto

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Iludido de... joão m. jacinto
Iludido de
viver em liberdade,
No meio de tudo,
Na confusão do igual…
Esquecido de lutar
No silêncio do orgulho
Compenetrado à afirmação;
Ser poder
E livremente criar,
Ser amor
E sentir todo o prazer…
Submerso num oceano,
Só,
Sem cardume,
Esperando que Poseidon
Liberte as sereias
E me diga também
O que sou
E onde é meu habitat.
Já me afoguei
De esperanças,
Agora quero o mar
Que há em mim,
Para me navegar até sempre.
Hei-de me encontrar!…

(João M. Jacinto)

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Ser caminho
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««
Se alguém te disser
ser suficientemente conhecedor se si
e também ter muitas certezas
quanto ao caminho que deseja seguir,
então é por que há muito que não se sabe
e porventura acusará outros de lhe desviarem a sorte
e de lhe dificultarem ao que, nos sonhos, lhe já pertencia.
Se olhar para ti, com soberba,
e não te souber enfrentar como igual,
então continua presa fácil
de uma consciência pobre, austera,
insuficiente para aliviar as sombras
que lhe escondem o destino
e a sua essência.
O desespero
motiva à fé,
quando não há força para a acção.
A inteligência reina
impiedosamente;
não há deus que valha!
Ser caminho
é ser!
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««
joão m. jacinto

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Resto de Gente
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««
Sou pedaço de vida,
deitado na sombra de uma multidão,
sou força vencida,
mergulhada e perdida em desilusão,
sou dor viciada,
de choro e de pranto sem poder fugir,
sou no sofrimento,
o espelho do tempo, sem nunca o medir.
Sou desgosto secreto
e incompreendido na palavra sim,
sou um resto de gente,
vergado ao silêncio, não se riam de mim,
sou pobre enjeitado,
em nudez de encanto carrego minha cruz,
sou um fado pesado,
sou compasso trinado, sou um canto sem luz.
Se digo o que sinto,
se minto o que sou, não o faço por querer,
não me disfarço e me escondo,
no falso sentido do que acabo por ser.
Se me dou e me desfaço,
se luto esquecido e vivo insatisfeito,
sou no cinzento tristeza,
verbo conjugado no pretérito imperfeito.
Sou um rio parado,
sem margens, sem leito, sem fundo, sem foz...
Uma barca sem remos,
sem redes, sem leme, sem velas, sem nós...
Sou tarde poema,
de versos sem rima, lento de se pôr,
sou no nevoeiro,
o que desaparece e se apaga de cor.
Sou um resto de gente,
o que sobra do início, o que falta para o fim,
vergado ao silêncio, não se riam de mim.
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««
joão m. jacinto (in Recantos da Lua)
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Instala-se-lhe o Inverno na alma,
onde guardará pela noite dentro,
entre silêncio e frio,
a única semente a resistir.
E cair-lhe-ão os chifres da ganância,
pouco antes de ruir o cume da montanha.
E no auge de todas as mortes
será despojado de importância e de pertenças,
e assim o espírito, revigorado,
sofrerá a predestinação de encarnar
uma outra primavera.
Restará o tempo,
para apagar o que sobrou da montanha
e para que se faça notar a essência humana
(re)nascida na planície.
E o velho Capricórnio,
com corpo de bode,
cauda de peixe...
Apenas, terá o tempo,
de aceitar, que morreu.
E que, como ele,
o capitalismo
da especulação,
da não transparência,
da desigualdade…,
também, já sucumbiu.
joão m. jacinto
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Não pode um pai
ser isto,
tratar filhos
como enteados;
injusto,
arrogante,
hipócrita..
E desgovernar uma família
somente pelo prazer de a chefiar,
sem ter instinto,
jeito ou saber…
Não quero ser filho,
neste lar,
de sabor amargo,
de quem nem sabe
ser fraternal.
««««««««««««««««««««««««««««
joão m. jacinto

FESTIVAL JOÃO JACINTO

Todos um
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««
De repente
todos se calam,
faz-se o silêncio
da estratégia,
da vergonha
ou o da ignorância.
Tudo parece normal e são;
finge-se a felicidade.
E seremos o mesmo
até a exaustão,
por medo
ou conformismo,
à falta de alternativas,
de outros mares
e de auto estima.
O que serei eu,
sem ti?
O que serás tu,
sem ele?
O que será ele,
sem nós?
E nós,
o que seremos sem voz?
Gritemos
por amor
à liberdade,
é urgente;
estarmos vivos,
despertar
quem ainda está morrendo,
sermos todos um.
Temos ainda um sonho por cumprir,
uma terra, entre mãos, por dizer,
um fado, em uníssono, por cantar!...
«««««««««««««««««««««««««««««««««««««««««
joão m. jacinto